Cada vez mais, profissionais com alta qualificação ou com perfil empreendedor estão deixando o Brasil em busca de segurança profissional e pessoal nos Estados Unidos. Levantamento feito pela consultoria especializada em expatriação JBJ Partners revela que nos últimos quatro anos cresceu a migração de pessoas com formação superior para os Estados Unidos. De acordo com a empresa, a parcela de migrantes com formação universitária ou pós-graduação passou de 83% para 93%.
A mudança de perfil ocorre no momento de crescimento intenso da emigração. De acordo com a Receita Federal, 21.236 pessoas preencheram em 2017 a declaração de saída em definitivo do país para diferentes destinos. No período de recessão, a saída de brasileiros cresceu 115,4% – levando-se em conta a saída de 9.858 pessoas em 2013.
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Segurança e a possibilidade de se desenvolver profissionalmente foi o que levou o nutricionista paulistano Marcelo Ferro, de 52 anos, a se mudar para o sul da Flórida no fim do ano passado. Com 12 anos de experiência – antes, exercia outra atividades, incluindo uma passagem pela empresa da família -, pós-graduação em farmacologia clínica e mestrado em ciências do envelhecimento, Ferro deixou para trás o consultório com 6 mil clientes cadastrados e um longo currículo de participação em congressos para se aperfeiçoar e buscar um lugar ao sol no concorrido mercado americano.
Feliz com a possibilidade de sair às ruas “a qualquer hora do dia ou da noite” sem risco e poder passear com o cachorro à vontade, Ferro já decidiu que não vai voltar. Ainda mais porque, assim que se mudaram há sete meses, ele a mulher descobriram que esperavam um filho, que acaba de nascer, nos EUA.
Agora, entre estudos e atendimentos domiciliares, o nutricionista se empenha em conseguir o “green card” para receber o visto de residente e realizar o sonho de não mais ter de viver no Brasil.
Ferro ilustra bem o perfil dos “novos” expatriados que trocam o Brasil pelos EUA: 95% dos pesquisados dizem não ter planos de voltar ao Brasil nos próximos três anos. As razões mais apontadas para a saída são violência, instabilidade econômica e corrupção.
De acordo com a JBJ, tem crescido o número de famílias inteiras que deixam o país. Há quatro anos, 41% dos expatriados pesquisados eram casados e, destes, 63% tinham pelo menos um filho, segundo a pesquisa. Hoje, o porcentual de expatriados casados subiu para 68% e, dentre eles, 83% são pais.
Além da escolaridade, a faixa etária dos expatriados também aumentou. Até 2013, a pesquisa mostrava que 61% dos que haviam se mudado para os Estados Unidos tinham até 29 anos. Hoje, a faixa de 30 a 49 anos – considerada a faixa mais apta a ter carreira consolidada e maior poder aquisitivo – já representa 57% do total.
Os dados levantados pela consultoria e o aumento das declarações de saída de definitiva do país junto à Receita configuram uma verdadeira “fuga de cérebros”, afirma Jorge Botrel, sócio da JBJ. “A fuga de cérebros se caracteriza pelo crescimento do número de pessoas com PhD, doutorado e MBA que saem em direção aos Estados Unidos.” Desde 2015 Botrel mora em Miami, onde presta assessoria a profissionais e empreendedores que mudam para os EUA. “Antes de 2013, 18% dos que migravam não tinham curso superior. Hoje, só 6%. O número dos que têm pós cresceu de 18% para 23%.”
Para ele, “chama a atenção” a preocupação quase unânime com segurança. Também é muito grande os que afirmam querer um futuro melhor para os filhos – o que explica o crescimento dos casais com filhos até 13 anos entre os novos imigrantes brasileiros. “São pessoas que não enxergam perspectiva de melhora para o país nos próximos 20 anos”, afirma.
Não querer ver os filhos pequenos crescerem “atrás das grades de um condomínio” foi o que levou o engenheiro elétrico Ary Selener a deixar a sociedade de uma empresa de construção no Brasil com 500 funcionários – na qual enfrentava um crescente passivo trabalhista – para abrir uma empresa em solo americano. Agora, Selener é dono da Brandsel, empresa que terceiriza a operação de vendas da Amazon nos EUA para fabricantes de diferentes produtos de várias partes do mundo.
Há três anos nos Estados Unidos, o empresário nasceu em Buenos Aires. Viveu dos 12 aos 39 anos no Brasil, onde não tem mais nenhum parente. Suas duas irmãs também deixaram o país – uma rumo aos EUA, outra à Austrália. Os pais seguiram para Israel.
O engenheiro argentino também faz parte de um perfil cada vez mais presente entre os que migram para os Estados Unidos: o dos empreendedores. Dentre os mais de 80 tipos de visto possíveis para se entrar nos EUA, esse é um dos mais fáceis de obter, explica Botrel. Quem tem empresa no Brasil e quer abrir uma subsidiária por lá ou até mesmo outra empresa – não necessariamente do mesmo ramo -, encontra facilidades.
Mais fácil ainda é a vida de quem tem dupla cidadania, válida para algumas nacionalidades europeias, para japoneses e argentinos – caso de Selener -, entre outros. São países que têm acordos com os Estados Unidos que facilitam a obtenção da cidadania americana, além da original. “Alguns vão em busca de trabalho, outros são transferidos, mas a maior parte, cerca de 80%, vai para investir como forma de viver nos Estados Unidos, diz Jorge Botrel.
Na média, um empreendedor brasileiro investe entre US$ 200 mil e US$ 500 mil para abrir empresa nos Estados Unidos. Alguns negócios menores custam em torno de US$ 100 mil, mas o investimento em restaurante de grande porte pode ir de US$ 800 mil a US$ 1 milhão, explica o consultor.
Quem tem dupla cidadania investe em média entre US$ 300 mil e US$ 400 mil para abrir um negócio. “A dupla cidadania é o melhor custo-benefício, o processo é rápido”, diz Botrel. “Entre apresentar o plano de negócios no brasil, em um consulado americano, e a liberação do visto, demora em torno de um mês.”
Existem ainda os profissionais cujo currículo os qualificam como “habilidades extraordinárias”, cuja presença interessa às autoridades americanas. Mas são poucos os que se enquadram nesses critérios. Precisam ser altamente qualificados em algumas profissões-chave e ainda gozar de prestigio e projeção internacional em seu meio.
Falar em se mudar para os EUA após a ebulição xenófoba promovida pelo governo de Donald Trump pode parecer um contrassenso. Afinal, o atual presidente endureceu o cumprimento das leis de imigração a ponto de, em seu primeiro ano de mandato, as prisões de imigrantes ilegais terem crescido 40%. Mas os Estados Unidos são um país de imigrantes. O que Trump acirrou foi basicamente o sentimento em relação ao imigrante ilegal. Quem vai para trabalhar em funções qualificadas ou para abrir um negócio é sempre muito bem visto.
Na avaliação do sócio da JBJ, a diferença desse “novo” migrante para o tradicional é a qualificação e o poder socioeconômico. “A pessoa faz um planejamento, contrata uma consultoria, advogados para cuidar da parte legal da migração etc. Depois investem em negócios. Mas, segundo ele, é preciso ter cuidados durante o processo de mudança, principalmente com a documentação.
O consultor recomenda aos interessados pesquisar as leis de imigração, acompanhar o envio de documentos, consultar mais de um advogado e ter cópia da petição entregue às autoridades americanas para evitar ser surpreendido por uma investigação. Há empresas que entregam documentação irregular para apressar a aprovação, mas, caso as autoridades descubram irregularidades, o processo judicial recai não só sobre a empresa, mas também sobre a pessoa a quem ela representa.
A JBJ oferece uma primeira conversa, de orientação, gratuita para os brasileiros interessados no processo de migração. Caso a consultoria seja contratada, o interessado passa a pagar US$ 300 por uma sessão de até três horas, com finalidade de orientação. Definido o planejamento, o custo para estruturar a migração, incluindo a parte legal, é de US$ 2.500. Fora isso, o interessado em empreender tem gastos com a burocracia americana, que vão de US$ 8 mil a 12 mil, conforme a natureza do negócio.
Syngenta investirá US$ 1,4 bi em 2018
Por Kauanna Navarro | De São Paulo
Quase um ano após a conclusão da aquisição da suíça Syngenta pela ChemChina, muita coisa mudou dentro da empresa de origem europeia. E a principal mudança foi a adoção de uma estratégia mais agressiva de crescimento, reconheceu o americano Erik Fyrwald, presidente global da Syngenta, em entrevista ao Valor.
Dentro da nova estratégia, a Syngenta está ampliando os investimentos para não perder a liderança no mercado de agrotóxicos e para se consolidar na terceira posição em sementes no mundo. Segundo Fyrwald, a empresa deve investir este ano US$ 1,4 bilhão globalmente, quase 8% a mais que os costumeiros US$ 1,3 bilhão anuais.
Para 2019, a previsão é de que o investimento cresça em ritmo semelhante.
Do montante total, boa parte tem sido direcionada ao mercado brasileiro. “Temos investido bastante no Brasil e vamos investir ainda mais agora”, disse. O país é o segundo mercado da Syngenta no mundo, com cerca de 20% do faturamento global, só atrás dos Estados Unidos. Em 2017, a empresa suíça faturou US$ 12,6 bilhões, retração de 1,1% ante 2016.
Para manter as posições no tabuleiro global das grandes empresas de agroquímicos, a Syngenta comprou a Nidera Seeds, braço da chinesa Cofco International, no fim de 2017. “Essa foi uma grande aquisição e muito importante para nós”, observou o executivo. No mesmo segmento, a Syngenta comprou, em abril deste ano, a produtora americana de sementes de hortaliças Feasterville.
Na área de agricultura digital, a Syngenta fez duas aquisições só neste ano. Em fevereiro, comprou a americana de imagens de satélite FarmShots, e, em março, a agtech brasileira Strider.
E as compras não devem parar por aí. “Vamos continuar procurando oportunidades de aquisições na área de sementes de milho, soja e vegetais”, reforçou Fyrwald.
Questionado sobre o acúmulo de estoques de defensivos nos canais de distribuição, pedra no sapato das indústrias do setor no Brasil desde 2016, o presidente global da Syngenta afirmou que a situação se normalizou. “Trabalhamos muito com o canal de distribuição para normalizar a situação e não veremos mais isso arranhando nossos resultados neste ano”, disse. Em 2017, a receita na América Latina caiu 12,4%, para US$ 2,9 bilhões.
Mas o aumento de custos de produção devido à valorização do petróleo e à elevação dos padrões ambientais em várias fábricas na China deve continuar pressionando margens. “Nossas receitas estão crescendo de maneira consistente. Mas as margens têm sido pressionadas pelo aumento de custos”, disse.
Fonte: Por Eduardo Belo | De São Paulo 07/05/18